Ano VIII - nº 2 - Setembro de 2004voltar
Opinião
15 de outubro: para sempre um dia de comemorações e luta
Caro(a) Amigo(a) Professor(a),
A partir de 1996, ano em que assumi a presidência do Sinpro-Rio pela primeira vez, procurei imprimir mudanças que significassem sua modernização. Modernização necessária, diante das transformações ocorridas no mundo do trabalho e na sociedade em função do desenvolvimento científico e tecnológico e das mudanças políticas que alteraram os quadros mundial e nacional.
O fortalecimento das lutas sociais apontando para um outro mundo possível, de liberdade e justiça social, deve ser o centro das nossas preocupações ao pensarmos o nosso sindicato.
O professor hoje é objeto de disputa ideológica, travada pelos empresários do ensino e pelos governos que defendem os conceitos neoliberais de nossa época. Nossa luta passou a ter um significado maior na medida em que o sistema vigente procura preparar nossos jovens para a exacerbação do individualismo em detrimento da ação coletiva, privilegiando a busca do sucesso individual a partir da relação que o indivíduo consiga estabelecer com o mercado.
Nesta batalha ideológica estamos do outro lado, pois defendemos um processo educativo baseado no exercício da cidadania, entendida como processo de conquista da autonomia na relação com o próximo, esta calcada no princípio da solidariedade e na construção coletiva, e no exercício de poder político do indivíduo, como elemento pertencente a um grupo social.
Neste processo o aluno deve ocupar o lugar central na construção do conhecimento, de modo que aprenda a aprender, a ser, a fazer e a conviver.
A realização desta tarefa é complexa, pois somos colocados no centro das atenções, sendo-nos atribuídas responsabilidades na solução de problemas para os quais não recebemos a devida formação. A violência, presente em nosso cotidiano, não se coloca somente na periferia da escola, mas também na sala de aula, onde se multiplicam os casos decorrentes do tráfico e do processo de degradação das relações familiares.
Cresce o número de casos de crianças que se apresentam como soldados do tráfico, freqüentando a escola por exigência dos seus chefes. Multiplicam-se os casos de alunos que sofrem a violência física e o assédio sexual em seus locais de moradia, que sonham encontrar na escola um refúgio para a sua dor.
A sexualidade e a rebeldia explodem à frente do professor, desafiando sua capacidade em orientar a discussão de temas de tão difícil equacionamento.
Por outro lado, na luta pela sobrevivência, enfrenta os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, a jornada excessiva, as centenas de provas e trabalhos a corrigir nos finais de semana e o constante desrespeito de vários patrões ao cumprimento das leis trabalhistas.
As conseqüências na saúde do profissional são devastadoras. O estresse, a perda de energia, a impaciência, a irritabilidade, as dores de cabeça, a hiper-alimentação, as dores de coluna, a labirintite, a faringite, as neuroses, as doenças dos aparelhos locomotor e circulatório estão em nós presentes o ano inteiro.
É neste quadro que cresce a importância do Sinpro-Rio como entidade administrativamente organizada e com uma diretoria política e ideologicamente preparada para liderar as lutas da categoria nos planos corporativo e político.
Nos últimos anos ampliamos a base de representação do Sinpro-Rio para os municípios de Paracambi, Itaguaí e Seropédica, a partir da reconstrução e modernização da subsede de Campo Grande; criamos a subsede da Barra da Tijuca, modernamente aparelhada para organizar os professores das áreas de São Conrado, Barra, Recreio e Jacarepaguá; implantamos o sistema Linux de software livre, colocando nossas três sedes em rede, apresentando um portal que já atingiu a média de 11.000 visitações mensais, democratizando as informações internas do Sinpro e as relações com a categoria – hoje o professor pode ter acesso on-line às informações sindicais, pode sindicalizar-se e atualizar seus dados cadastrais através da internet.
Criamos a “Escola do Professor”, o maior projeto sindical de formação continuada de docentes do país, que atende a mais de 1.000 professores a cada semestre; organizamos na Zona Oeste, juntamente com outras entidades da sociedade, o Fórum Comunitário da Zona Oeste, objetivando organizar o debate com a população dos seus problemas, como habitação, saúde, educação, transporte, etc.
E o que é mais importante: conseguimos a reposição da inflação nos salários pelo INPC, garantindo também as conquistas sociais contidas em nossos acordos coletivos de trabalho. Esta é uma luta permanente, função precípua do sindicato.
No dia 15 de outubro quero associar-me a você, companheiro(a) professor(a), numa manifestação de regozijo pela nossa capacidade de construir gerações, de resistir durante tanto tempo às dificuldades, mas também de ter a capacidade de refletir acerca da nossa profissão e das contribuições que podemos dar para a construção de um grande país, com liberdade e justiça social.
Professor(a), parabéns pelo nosso dia, para sempre um dia de comemorações e de luta.
Francilio Pinto Paes Leme, presidente do Sinpro-Rio